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[Magia sem Lágrimas]: eclipses lunares na magia


7 DE MARÇO DE 2025 E.V.

 

Care Frater,


Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.

 

Desde os primórdios da magia, o homem compreendeu que as forças mágicas do Cosmos estão a sua disposição para uso, para manipulação ou administração. Para tornar esse conhecimento possível, o homem desenvolveu sistemas e tecnologias mágicas tanto para compreender quanto para manipular.

 

Sob uma perspectiva mágica e animista, a astrologia não é apenas um sistema simbólico ou psicológico de interpretação de arquétipos – como muitas vezes é reduzida no contexto esotérico contemporâneo. Em sua raiz ancestral, a astrologia é a arte de ler a linguagem viva do Cosmos, entendendo que os astros são entidades praeter-humanas, dotadas de consciência, vontade e poder. Sob a perspectiva da Quimbanda, todos os astros são espíritos ancestrais.

 

Nessa cosmovisão mágica, encantada, cada planeta é um espírito ou divindade, cada signo é um campo vivo de influência anímica, e cada aspecto astrológico é um diálogo real entre potências espirituais, que afetam tanto o mundo material quanto o ochēma-pneuma e a alma do mago. A astrologia é, portanto, um sistema oracular e operativo, pois não só revela os fluxos de poder em andamento, como permite que o magista se conecte a esses fluxos, influencie-os e os canalize para fins específicos.

 

Astros e estrelas, dentro dessa visão animista, são corpos vivos – cada qual pulsando uma qualidade espiritual única. Marte não é só um símbolo de guerra: ele é Ares, o espírito da guerra encarnado no céu, cuja presença pode ser invocada em rituais de combate, corte, separação ou libido. Este espírito está presente sempre que existe uma contenda, de qualquer natureza. Guerrear é cultuar este espírito. Vênus é Afrodite, cuja força magnética pode ser canalizada para sedução, harmonização ou encantamento amoroso. Ela está sempre presente na paixão, no enlace de união. Amar, se unir em gozo e paixão, é cultuar esse espírito.

 

Essa astrologia mágica e animista não é determinista – os astros não obrigam, mas sim sussurram, atraem e inclinam. O mago, como sacerdote e feiticeiro celeste, aprende a conversar diretamente com os astros, oferecendo-lhes sacrifícios, encantamentos, preces ou pactos. Um ritual astrológico eficaz é uma troca de forças mágicasa e inteligência entre o microcosmo do magista e o macrocosmo estelar. A astrologia, neste sentido, será utilizada como uma chave de acesso aos espíritos estelares ou astrais do Cosmos, um portal para conexão com eles. Trata-se de uma ferramenta ou tecnologia mágica.

 

O mago pode, por exemplo, selecionar momentos específicos para realizar rituais, talismãs e encantamentos, escolhendo janelas temporais em que os astros estejam alinhados para infundir na operação mágica a força total de suas virtudes. Um talismã de Vênus para amor é consagrado quando Vênus está forte (em Touro ou Libra, angular e não aflita). Rituais planetários podem ser realizados em dias e horas específicas, utilizando a astrologia não só como guia temporal, mas como portal direto para invocar a força viva do planeta. Nas tradições modernas derivadas diretamente do renascer da magia no fim do Séc. XIX, o mago assume a forma divina do planeta, integrando sua psique à essência espiritual daquela esfera.

 

A chamada assunção de formas divinas, como ensinada em correntes hermeticistas tardias e ordens derivadas da Ordem Hermética da Aurora Dourada, representa uma distorção da fórmula mágica original das tradições mágicas animistas, oraculares e xamânicas. Essa técnica foi concebida como uma solução artificial, uma tentativa de simular externamente o que, nas tradições de possessão autêntica, ocorre como um rapto da alma pelo poder divino ou espiritual convocado. Ao invés de buscar a invasão direta da consciência pelo espírito, o magista ocidental moderno limitou-se a um exercício teatral de imaginação criativa, restringindo a operação mágica a uma construção mental subjetiva e simbólica.

 

No entanto, em culturas religiosas afro-diaspóricas no contexto das Américas, a verdadeira invocação opera por meio da possessão real – o magista não assume a forma da entidade praeter-humana, mas é tomado por ela, rasgado em sua identidade ordinária para tornar-se veículo puro da força convocada. Esta é a verdadeira fórmula da cabalá crioula: a teurgia da carne em transe, onde o corpo é o altar vivo e o espírito invocado é o oficiante através do mago. A possessão divina, diferente da assunção de formas divinas, é o ato visceral de permitir que o corpo e a fala sejam sequestrados pelo espírito, Exu ou qualquer ancestral convocado. A tentativa de esterilizar esse processo, substituindo-o por uma visualização ou encenação mental, não é assunção real, mas obstrução da corrente mágica verdadeira.

 

O objetivo da Ordo Serpente & Estrela é eliminar esse tipo de anacronismo magístico. A assunção de formas divinas é uma técnica baseada na mentalização e no controle voluntário da mente imaginativa, refletindo uma perspectiva mágica altamente intelectualizada, onde a mente do magista é soberana e a divindade é uma extensão simbólica da própria psique. Por isso, ela é muitas vezes criticada como um método artificial e teatral, distante da visceralidade oracular e mágica presente nas tradições animistas.

 

A possessão divina, por outro lado, é uma prática profundamente enraizada na corporificação dos poderes de um espírito ou divindade. É, portanto, uma técnica mágica estética, onde o poder não é apenas pensado, mas vivido corporalmente. Aqui, o corpo é altar, tambor, ferramenta e templo. O espírito convocado não é uma abstração ou arquétipo simbólico, mas uma presença ancestral concreta, com personalidade, gostos, voz e cheiro.

 

Essa diferença é também política e espiritual: enquanto o magista ocidental moderno busca dominar o Cosmos através de sua mente analítica, o mago da nova síntese da magia entrega-se e é cavalgado – uma submissão ritual que reconhece a precedência e a potência da força espiritual sobre o ego do operador. Isso revela a diferença entre sistemas mágicos nascido em salões burgueses esotéricos e sistemas forjados na resistência de povos escravizados, cuja magia não é apenas especulativa, mas ferramenta de sobrevivência e poder direto. A nova síntese da magia consiste em unir os métodos mágicos europeus a feitiçaria fetichista afro-diaspórica, i.e. o trabalho do obeah e wanga (Liber AL vel Legis I:37).

 

Voltando a astrologia, ela pode ser a base para a criação de talismãs e amuletos astrológicos, onde o mago imanta um objeto com a força espiritual de um planeta. Mapear a carta natal de alguém, por exemplo, é um ato de divinação mágica, revelando não apenas tendências psicológicas, mas espíritos tutelares, maldições hereditárias, pactos astrais e desequilíbrios diversos. A leitura astrológica é uma forma de necromancia astral, trazendo à tona as vozes ancestrais e espirituais dos astros sobre alma.

 

Um eclipse lunar ocorre quando a Terra se posiciona entre o Sol e a Lua, projetando sua sombra sobre a Lua Cheia, que pode ficar escurecida (eclipse total) ou parcialmente oculta (eclipse parcial). Do ponto de vista mágico e animista, um eclipse lunar é uma interrupção violenta do fluxo normal entre o Sol e a Lua, abrindo portais astrais de manifestação para ingresso e egresso de entidades praeter-humanas, bem como a potencialização de rituais e feitiços, saturando magicamente horas e locais de poder. Isso tem um impacto profundo na alma das pessoas, a depender da localização geográfica.

 

A Lua é tradicionalmente associada ao Submundo, aos mortos, à memória coletiva e ao ochēma-pneuma. Quando a sombra da Terra cobre a Lua, temos um apagamento momentâneo da luz lunar, o que abre um hiato no tecido astral. Durante o eclipse lunar, a Lua é engolida e devolvida – uma porta se abre entre os vivos e os mortos. Espíritos ancestrais e forças de encantamento necromântico são mais acessíveis. Em outras palavras, fica fácil acessar os mortos e o Submundo. No contexto da Quimbanda, uma arte de feitiçaria noturna, sub-lunar, trata-se de um momento ideal para trabalhos mágicos diversos.

 

A força de um eclipse lunar pode ser usada para:

 

  • Banimento e quebra de maldições: A força caótica do eclipse é propícia para rituais que visam cortar laços, quebrar encantos, exorcizar e remover influências espirituais negativas.

  • Transformação: Assim como a Lua é apagada e renasce, o eclipse é usado para rituais de morte e renascimento mágico – encerramento de ciclos e preparação para renascimentos iniciáticos.

  • Amplificação de malefícios: Tradicionalmente, eclipses são momentos temidos porque afetam o ochēma-pneuma de todos os seres vivos, tornando-os vulneráveis. Na feitiçaria da Quimbanda o eclipse pode ser utilizado como uma janela para lançar maldições e pragas com potência dobrada.

  • Banhos de descarrego em águas correntes ou de mar.

  • Queima de oferendas para ancestrais e Exus.

  • Construção de talismãs de proteção ancestral.

  • Meditação profunda sobre sombras internas e ancestrais desconhecidos.

  • Oferendas de sangue, vinho ou leite a entidades lunares.

  • Reativação de pactos espirituais adormecidos.

  • Uso de espelhos mágicos para comunicação com o Submundo.

  • Colheita de ervas sob a luz do eclipse para poções de banimento ou encantamento amoroso de atração obsessiva. 


Astrologia mágica e animista é uma via de comunicação direta entre o mago e o espírito vivo do Cosmos. Não é uma ciência morta, nem um simples horóscopo psicológico: é teurgia celeste, onde cada astro é uma divindade, cada ciclo é uma respiração cósmica e cada eclipse é um grito ancestral que vem do céu.

 

Dominar essa arte não é apenas conhecer efemérides, mas saber falar a língua viva das estrelas, oferecendo, trocando, evocando, amaldiçoando e abençoando com a mesma naturalidade com que se respira.

 

Amor é a lei, amor sob vontade.

 

Fr. AHA-ON 777 ∵

 
 
 

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