[Magia Sem Lágrimas]: Thelema vs Transgenerismo
- Fernando Liguori
- 18 de mar.
- 9 min de leitura

8 DE MARÇO DE 2025 E.V.
Cara Soror,
Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Compreendo seu dilema, suas dúvidas, seus rancores, traumas e frustrações sobre as ponderações que teci em meu texto sobre Os Perigos do Feminismo em Thelema e a última resposta que lhe enviei, Thelema vs Cultura Woke: uma contradição filosófica, mágica e iniciática. Com relação as suas considerações, essa resposta que segue dou o nome de A Deturpação da Missa Gnóstica: o perigo do transgenerismo e da cultura queer na magia sexual thelêmica. Essas ideias com as quais você está flertando, como iniciada da O.T.O., veja bem: não são e não fazem parte do corpo doutrinal e estrutural da ordem. Elas vêm de fora e são fruto da profunda inadequação de alguns membros, os thelemita-z, ao sistema fálico e androcêntrico da O.T.O. Então vou começar do início, ponderando sobre cada uma de suas missivas.
A ascensão das ideologias da cultura woke, do transgenerismo e da teoria queer nos círculos esotéricos modernos, em especial dentro da Ordo Templi Orientis (O.T.O.), tem gerado um profundo dilema sobre a integridade dos rituais mágicos originais estabelecidos por Aleister Crowley. A recente insistência em aceitar mulheres trans (ou seja, homens biológicos que se identificam como mulheres) como Sacerdotisas na Missa Gnóstica não é apenas uma distorção da fórmula original da magia sexual thelêmica, mas um atentado direto contra os princípios biológicos e metafísicos da sexualidade sagrada. Este texto visa expor, com base nos escritos de Crowley e em autores contemporâneos como Nine Borges, os perigos dessa deturpação e os impactos destrutivos que essa mentalidade pode trazer para a tradição.
Aleister Crowley estabeleceu a Missa Gnóstica como o principal rito público da O.T.O., simbolizando, entre outras coisas, a união do PHALLUS e do GRAAL, o mistério central da magia sexual do IX° Grau da ordem. O Sacerdote representa o princípio ativo masculino, o Logos fecundador; a Sacerdotisa, por sua vez, é o receptáculo sagrado, a Matriz de Babalon, a manifestação do princípio receptivo feminino. Essa dualidade não é uma construção arbitrária, mas uma estrutura mística e biológica essencial à magia thelêmica. Em Magick in Theory and Practice, Crowley afirma: A Grande Obra pode ser simbolizada como a União do Masculino e do Feminino, do Sol e da Lua, do Falo e do Graal.
A distinção entre os sexos na Missa Gnóstica é, portanto, metafísica e sagrada, não uma mera convenção social. A substituição da Sacerdotisa por um homem biológico, independente de sua identidade de gênero, corrompe a fórmula mágica e rompe a própria estrutura sobre a qual Thelema e a O.T.O. foram construídas.
A cultura queer, que tem suas raízes na teoria pós-moderna e no ativismo de gênero, argumenta que o sexo biológico é irrelevante e que a identidade de gênero pode ser autodeclarada, independente da realidade objetiva. Essa ideologia, nas palavras de Nine Borges, leva a um colapso da ordem natural e ao culto do caos: A ideia de que a identidade pode ser simplesmente autoafirmada sem qualquer conexão com o corpo é uma fuga da realidade, uma degeneração do ser, e não uma evolução. (Nine Borges em Feminismo e a Revolução das Mentiras).
A aceitação de uma sacerdotisa-trans na Missa Gnóstica não é um ato de inclusão, mas uma subversão do princípio hierogâmico, um desmantelamento dos pilares sexuais sobre os quais Crowley construiu o sistema iniciático da O.T.O. Veja o portfólio do livro A Lança & o Graal. Leia todo ele.
No Liber AL vel Legis, encontramos a exortação: Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei. (I:40) A Verdadeira Vontade, no entanto, não é uma licença para a perversão do sagrado. Não é a vontade individual do iniciado que pode reconfigurar os Mistérios, mas sim os Mistérios que moldam e desafiam o iniciado. O culto queer é a antítese desse princípio, pois impõe uma inversão ideológica em que a subjetividade do indivíduo se torna mais importante do que a tradição objetiva dos rituais.
A disforia de gênero é um transtorno documentado na psiquiatria, caracterizado por um profundo desconforto com o sexo biológico. Estudos demonstram que a grande maioria dos casos de disforia em crianças e adolescentes se resolve naturalmente na vida adulta sem intervenção médica ou social. No entanto, a cultura woke transformou essa condição em um dogma ideológico, onde qualquer tentativa de questionamento é vista como transfobia.
Crowley, ao falar sobre iniciação e identidade espiritual, não apenas rejeita a negação da realidade material como ferramenta de autoengano, mas alerta sobre o perigo da falsa iluminação. Em Liber CL: De Lege Libellum ele diz: O maior inimigo do magista é a ilusão; cair na armadilha de confundir desejo com realidade é o fim de qualquer progresso.
Se a magia depende da Verdadeira Vontade e da aceitação incondicional da Verdade, então a inclusão de ilusões subjetivas na Missa Gnóstica corrompe sua potência e reduz sua eficácia a um teatro profano.
O feminismo contemporâneo, alinhado à ideologia queer, defende que o gênero é um espectro e que qualquer um pode ser mulher independentemente da biologia. Nine Borges, crítica feroz do feminismo e do transgenerismo, aponta que essa fusão entre feminismo e ideologia de gênero cria um ciclo de destruição interna: A dissolução do conceito de mulher não fortalece ninguém, apenas cria um mundo onde ninguém é nada, onde as palavras não significam nada e onde a única regra é a autoaniquilação. (Nine Borges em O Efeito Pós-Moderno no Feminismo).
Isso se aplica diretamente à magia sexual. A Missa Gnóstica e os ritos da O.T.O. exigem papéis sexuais definidos, porque operam com a realidade objetiva da energia sexual e espiritual. O culto queer, ao invés de fortalecer a busca espiritual, promove a dissociação do corpo e da alma, algo que Crowley consideraria um obstáculo absoluto à iniciação. Em Confessions Crowley escreve: Não há magia sem polaridade; a união dos opostos é a essência de todo poder criativo.
A substituição do feminino pelo masculino autodeclarado destrói essa polaridade e, consequentemente, aniquila a eficácia do rito.
A corrupção da O.T.O. moderna pela cultura woke e queer não é um fenômeno isolado. O desaparecimento da tradição, a degradação dos mistérios e a vulgarização dos ritos têm sido problemas recorrentes em ordens esotéricas que sucumbem à pressão social. Crowley anteviu esse perigo ao alertar sobre o culto da fraqueza e da escravidão moral em Liber Aleph. Ele diz: A verdadeira maldição do mundo moderno é sua servidão voluntária a ideais fabricados, em que a Vontade é sacrificada em nome do conformismo e da mediocridade.
Ao aceitar mulheres trans como Sacerdotisas na Missa Gnóstica, a O.T.O. moderna está abandonando sua essência original e se tornando mais uma ferramenta de doutrinação da cultura woke, um fantoche nas mãos do zeitgeist do Séc. XXI, dejeto de Choronzon. Toda cultura moderna baseada neste zeitgeist é excremento chozonzônico... O fim desse caminho é claro: a completa irrelevância da magia sexual thelêmica, o eixo teúrgico da tradição, reduzida a um espetáculo teatral progressista sem poder real.
Thelema não pode se curvar à ideologia woke sem se destruir. A inclusão da ideologia queer na Missa Gnóstica é uma distorção grave, uma tentativa de moldar os Mistérios à vontade do homem moderno degenerado, ao invés de elevar o homem até os Mistérios. Se a O.T.O. permitir essa degradação, deixará de ser um caminho iniciático real e se tornará apenas mais uma religião secular, sem poder, sem verdade e sem futuro. A restauração da Verdadeira cultura e tradição thelêmicas exige resistência. Como Crowley escreve em seus comentário a O Livro da Lei: Nenhum verdadeiro Adepto aceita as mentiras do mundo moderno; seu caminho é de ferro, forjado na Verdadeira Vontade.
Feita a devida contextualização, passamos a aspectos importantes a serem considerados acerca dos Mistérios que envolvem a Missa Gnóstica.
A Missa Gnóstica é uma das expressões mais sublimes da teurgia thelêmica. Mais do que um simples ritual cerimonial, a Missa é a dramatização simbólica da fórmula central da magia sexual de Thelema: a União do PHALLUS e do GRAAL, do princípio ativo e passivo, do masculino e do feminino. Esses papéis são necessários e imutáveis, pois refletem princípios metafísicos e biológicos fundamentais.
A estrutura da Missa Gnóstica baseia-se em um equilíbrio preciso de forças polarizadas. O Sacerdote representa o princípio solar e fálico, a energia criadora que fecunda e dá vida. A Sacerdotisa, por sua vez, é a manifestação da Deusa, o cálice da matéria viva, o útero da criação. Esta divisão não é arbitrária, mas sim a reprodução ritual da própria ordem cósmica. Aleister Crowley em Magick in Theory & Practice, define claramente a importância da polaridade: A energia sexual é a chave de todo poder mágico. A sua operação requer a conjunção das forças masculinas e femininas, pois a criação surge da união dos opostos.
Na Missa Gnóstica, cada elemento do ritual segue uma estrutura precisa: O Sacerdote é o portador da Lança, símbolo do PHALLUS, do Fogo Criador e da Verdadeira Vontade. Ele é Hadit, o Espírito indomável que se eleva e fecunda. A Sacerdotisa é o Cálice, Babalon, a receptividade absoluta, o Graal que recebe e transmuta a energia solar. A interação entre os dois é a consumação do hieros gamos, a união sagrada que gera a Criança Mágica, a manifestação visível do poder criador.
Não há substituto para essa polaridade. Um homem biológico que se identifica como mulher não pode cumprir o papel da Sacerdotisa, pois sua natureza energética e biológica não corresponde ao princípio feminino do rito. Essa substituição não apenas viola a precisão técnica do mistério, mas anula o próprio poder da operação.
A fórmula mágica Abrahadabra, a Palavra do Aeon de Hórus, só se manifesta na união correta do Falo e do Graal. Como Crowley escreve em Magick in Theory & Practice. Ele diz: A Lança e o Cálice são os fundamentos de nossa ciência e arte; neles está encerrada a chave de todo Mistério.
Quando um homem toma o lugar da Sacerdotisa, esse equilíbrio é quebrado. A energia não é mais dirigida corretamente, e o rito se torna um teatro vazio, sem eficácia teúrgica. Isso representa a morte espiritual do próprio rito e a corrupção do sistema iniciático da O.T.O.
A decadência moderna não é apenas social ou cultural, mas espiritual. O homem perdeu seu eixo metafísico; ele se afundou em relativismos, perdeu o contato com os princípios cósmicos imutáveis e busca dissolver os Mistérios no caldo morno do igualitarismo. O transgenerismo e a cultura woke são sintomas de uma doença maior: a negação da ordem e da realidade objetiva.
A fórmula mágica necessária para a restauração da virilidade espiritual e do mistério sagrado é a prática consciente do hieros gamos, do Casamento Sagrado, na sua estrutura correta. Isso significa:
Resgatar a função do PHALLUS como centro de poder criador: O homem deve reassumir sua posição como portador da Lança Sagrada, como emissário do Logos e canalizador da Vontade.
Reconhecer a Sacerdotisa como a verdadeira Senhora do Graal: A mulher tem um papel fundamental, mas não como um homem disfarçado de mulher, e sim como a verdadeira Mãe-Babalon, a receptora sagrada da luz.
Restaurar a Missa Gnóstica à sua forma original: Sem concessões ao politicamente correto, sem distorções. O ritual deve ser executado da forma como foi concebido, respeitando as forças sexuais e espirituais envolvidas.
A fórmula de Redenção está na reafirmação do poder divino do masculino e do feminino em seus lugares corretos. Julius Evola, ao tratar da restauração da virilidade sagrada, afirma em The Metaphysics of Sex: O homem moderno foi emasculado, castrado em espírito e corpo. A única salvação é a restauração do princípio solar da virilidade divina, pois apenas o homem que reconquista sua Lança pode abrir as portas do mistério e reordenar o caos.
Isso se aplica diretamente à Missa Gnóstica. Sem o Sacerdote solar e a Sacerdotisa lunar, a Grande Obra não pode ser consumada. Sem o PHALLUS, não há transmissão do Fogo Sagrado. Sem o Graal autêntico, não há receptáculo para a Luz.
Se a O.T.O. e as ordens thelêmicas continuarem a ceder ao igualitarismo e ao culto da confusão de gênero, elas se transformarão em meros simulacros de sua própria grandeza. A cultura woke, que Crowley teria desprezado, não pode ser o novo alicerce de Thelema. A Verdadeira Vontade não pode ser sacrificada em nome da conveniência social.
O próprio Crowley, em O Livro das Mentiras, alerta para os perigos do declínio espiritual: O homem escravizado às modas de sua época é um cadáver ambulante; sua vontade é fraca, sua mente é uma névoa. Ele não pode dominar a si mesmo, muito menos o mundo.
A aceitação de uma sacerdotisa-trans na Missa Gnóstica não é inclusão, mas subversão. Não é liberdade, mas a escravidão do espírito à confusão (Choronzon).
O resgate de Thelema exige que a Missa Gnóstica retorne à sua estrutura original, com respeito absoluto às forças metafísicas que ela representa. É preciso rejeitar as deturpações modernas e reafirmar a sacralidade do PHALLUS e do GRAAL, a união eterna entre o Sol e a Lua, entre o Sacerdote e a Sacerdotisa verdadeiros.
A fórmula mágica que pode redimir o homem desta era decadente não está na desconstrução dos ritos, mas no seu retorno ao sagrado. A Missa Gnóstica, executada corretamente, é um canal direto para o Fogo de Thelema. A distorção de seus papéis, porém, é um passo para a dissolução da própria Ordem.
A restauração da Virilidade Mágica e do Feminino Sagrado não pode ser negociada. Thelema não é relativista, não é subjetiva, não se curva às ideologias modernas. O PHALLUS deve ser erguido como a Lança da Vontade, e o Graal deve ser honrado como o receptáculo do Espírito.
Que a O.T.O. resista à corrupção woke e retorne à Verdadeira Lei de Thelema, pois somente assim seu poder será preservado. Que o magista levante sua Lança, que a Sacerdotisa ofereça seu Graal, e que a Palavra de Poder ecoe novamente no Templo: Abrahadabra – a união da Verdadeira Vontade com o Cosmos.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Fr. AHA-ON, 777 ∵
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